terça-feira

Palavras Azuis VI

"O Mundo de Sofia" de Jostein Gaarder

Um livro que faz parte da minha história de vida... Um daqueles que me deu(dá) tanto conhecimento e de uma forma tão invulgar, que está sempre à mão na prateleira. Há leituras, há livros que nos constroem e até desconstroem, quebrando tabus e expandindo a nossa personalidade. Para mim, este é um desses. Lido antes, mas só adquirido em 1997, já foi lido e relido inúmeras vezes. Admiro, entre outras, a experiência misteriosa e inexplicável de um romance conseguir percorrer a Filosofia, impregnado de filósofos e doutrinas, sem deixar de ser uma leitura primorosa.










"O facto de o mar estar calmo 
na superfície
 não significa que algo não esteja 
acontecendo nas profundezas."



Esta frase daí retirada é uma das que me define enquanto pessoa, porque quem está à minha volta caracteriza-me como calma, embora os meus olhos às vezes mostrem a vontade de o não estar. 
Sim, às vezes o meu reboliço interior é imenso, ao estilo de Pollock, mas o exterior não o demonstra; daí a ironia mordaz e finíssima, mas que tem de fazer fronteira com a tolerância do ou pelo Outro; daí no quotidiano até os meus alunos saberem que nem a voz gosto de aumentar; daí não conseguir travar discussões acaloradas, daquelas que batem com as portas ou exercitam a má-língua. 
Contudo, admito ser uma meada complexa, vasta, intensa e daí preferir a prosa das conversas ou escavar as emoções no papel e na tela (palavras e riscos). À semelhança da frase citada, sou uma pessoa calma, mas raramente as minhas profundezas o são - aí está sempre algo a acontecer - e, também à semelhança, sinto uma profunda admiração pelo mar, como também medo. 
Perspectivo assim que quem queira descer às minhas profundezas, para me conhecer múltipla e extensa, possa também sentir admiração e medo, assim como eu sinto em relação às pessoas humanamente densas. Insuspeito, para mim, seria não sentir ou não sentirem estes aparentemente contraditórios, mas também complementares, sentimentos, porque eu na minha inquietude intelectual sei que como são as minhas profundezas melhor do que ninguém.
Sofia Martinho

Sem comentários: